“Eu via boca aberta do inferno,
Com suas dores e pesares infinitos;
Só quem sentiu pode saber –
Oh! Afundei-me no desespero!”
Herman Melville,
Moby Dick
A onda de precarização não tem fim no serviço
público de Cubatão. Depois de meses com unidades sem papel higiênico e com
fornecimento de água prejudicado, agora é a vez de a prefeitura deixar de pagar
as horas-extras cumpridas por centenas de trabalhadores e trabalhadoras do
funcionalismo, deixando na mão todos aqueles que extrapolaram suas jornadas de
trabalho e se dedicaram exaustivamente no fornecimento dos serviços públicos
que a população necessita.
Embora a jornada legal de trabalho no Brasil
seja de 44 horas semanais, e no setor público, em regra, de 40 horas, a OIT
(Organização Internacional do Trabalho) e inúmeros relatórios de centros de
pesquisas nacionais vem apontando que cada vez mais e mais trabalhadores
laboram jornadas muito além das permitidas.
Em 2009 a OIT
registrava que 25,2% das mulheres e 43,2% dos homens no Brasil trabalhavam mais
de 44 horas por semana, sendo que 13,7% das pessoas do sexo feminino e para
25,2% daquelas do sexo masculino trabalhavam mais de 48 horas por semana. Já em pesquisa recente foi registrado que 58,6%
dos assalariados trabalham mais de 40 horas semanais.
Se levarmos em conta que boa parte das
mulheres ainda cumpre dupla ou tripla jornada em seus lares, com o acúmulo de
trabalhos domésticos, estamos falando de dias e noites sem descanso ou lazer.
No setor público a situação não é diferente,
sendo que no município de Cubatão esta cada vez mais recorrente encontrarmos
funcionários da educação, saúde, assistência, transporte etc., dobrando ou triplicando suas jornadas. Tomamos
conhecimentos de setores cujos servidores chegam a cumprir 36 horas
ininterruptas de trabalho. Um verdadeiro absurdo!
Tal realidade não pode ser vista como mero
fruto da vontade dos servidores em ganharem remuneração extraordinária, mas
antes deve ser entendido como consequência direta da corrosão salarial das
últimas décadas e pela fragilização que a Reforma Privatizadora do Estado vem
causando à categoria, que se vê reduzida paulatinamente, com carência de
concursos e salários achatados. Enquanto isso, a boca enorme das terceirizadas,
empresas e O.S.’s, vem abocanhando o erário e engordando seus cofres privados,
empregando trabalhadores em condições ainda mais precárias, e servindo de moeda
de troca política no município.
Como se não
bastasse, diversas doenças são causadas por condições tão extenuantes de
trabalho, entre elas a chamada Síndrome da “Hora-Extra”, também chamada de síndrome de burnout, ou síndrome do
esgotamento profissional, um distúrbio psíquico associado ao desgaste
profissional em virtude de jornadas intensas (CID-10), onde é causado estado de
tensão emocional e estresse crônico. Dr. Dráuzio Varella aponta que “Profissionais
das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos,
agentes penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam
dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno.”, e seus
principais sintomas são “esgotamento físico e emocional que se reflete
em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade,
isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de
concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa
autoestima, dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação,
pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios
gastrintestinais.”. A classe trabalhadora é sufocada e adoecida por esse
sistema.
Apenas com melhores condições de trabalho,
elevação salarial, mais concursos públicos e o fim das terceirizações é que
conseguiremos superar tamanha exploração e precariedade. Por isso, é necessário
que voltemos a discutir, denunciar e lutar organizadamente por melhores
condições de trabalho. Venha para a luta você também, participe da oposição!
Na luta.
Oposição Sispuc.
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